quarta-feira, 5 de março de 2008

Chupinha press (ou: Por isso que jornalista ganha mal)

Os coleguinhas jornalistas que de vez em quando passam aqui até que já sabem do que estou falando. Mas quem não é, vai se espantar...
Entrevistei um diretor da Motorola, que me convidou para almoçar no ótimo Tordesilhas (totalmente recomendado!). Não é pelo fato que a empresa pagou a conta que eu vou fazer uma reportagem do jeito que eles querem, exaltando a empresa, sem um pingo de visão crítica. Vivo sendo cobrado sobre isso pelos meus editores. E nem precisavam, pois uso o cérebro na hora de escrever qualquer texto, certo?
Para alguns colegas, infelizmente, errado. A vida deles deve ser tão ruim, corrida ou mal paga que eles simplesmente reproduzem o discurso da empresa. A empresa contrata uma assessoria de imprensa, que escreve press-releases e manda pros jornalistas. Um release, assim como uma entrevista em almoço ou em um press tour, é apenas o ponto de partida para pensar sobre o tema, investigar um pouco que seja e escrever - pensando, refletindo, usando o cérebro pô!!
Pois é, justamente fui pesquisar sobre a história que o executivo da Motorola me contou, que um modelo de telefone móvel (não exatamente um celular) é usado pra escanear o código de barras do ingresso vendido pelo Cinemark pela internet, e enviado ao celular do cliente. Bacaninha a história. A cobertura da imprensa, em compensação é vergonhosa!

Olhem abaixo o press-release original.
Em seguida o texto do site da Consumidor Moderno. É reprodução ipsis literis do press-release! Ou os jornalistas são tao explorados que não têm tempo nem pra ir no banheiro, muito menos para pensar, ou recebem tão mal que nem se importam com a qualidade do texto. Ou os dois...



Abaixo, o material da Info Corporate. Só não é ipsis literis porque foram feitos cortes para o texto ser lido no tempo curto que --presume o site-- o internauta tem para ler a notícia. Eu acho que se o leitor clicou para ver o texto é porque está interessado ou curioso. E a última coisa que o jornalista deve fazer é enganar seu leitorado publicando exatamente o que a empresa (e muitas vezes anunciante) quer.



É por essas e outras que eu coloco o MP3 no ouvido e me concentro com uma música bacana para poder mandar ver em um texto. Meu cérebro merece esse prazer e o pagamento justo. Felizmente não tenho do que reclamar da empresa em que trabalho. Mas sim, desse mercado que explora tanto os coleguinhas que, no fim, me faz pensar que ganho metade do que merecia, e a empresa sabe que eu hoje sou caro para este mercado. Ainda bem que todos estão felizes aqui, hehehe.








2 comentários:

Marco Aurélio disse...

Olá, Max.
Sou editor do site Consumidor Moderno. Li seu post e minha primeira reação foi pensar "Mas que feladaputa, veja só". Só que aí pensei melhor e percebi que você tem razão. Então comento para agradecer. De fato, fui omisso nesse caso, e devo ter sido em muitos outros. Vou começar a prestar mais atenção.
Abraço.

Max Alberto Gonzales disse...

Obrigado pelo comentário, Marco Aurelio!
E me desculpe se fui duro... a intenção não era atingir as pessoas, os jornalistas, que são os menos culpados disso.
Blame the bosses!
Estou à disposição se você quiser conversar.
Abraços,
Max