domingo, 30 de março de 2008

Muletas semânticas

Mais uma vez o governo faz uma enorme bobagem, dentro ou bem na linha demarcada pelo código penal, e tenta disfarçar com argumentos risíveis, mas ditos em tom indignado, de palanque, esperando que engane a patuléia que vota e adora esse presidente.
Dona Dilma bancou a santa e diz que o que sua braço-direito fez --armar e mandar à imprensa um dossiê mostrando os gastos da dona Ruth-- foi apenas "montar um banco de dados".
Então ela continuou explicando que um banco de dados é a melhor forma de organizar um monte de informações, no caso, os gastos da Presidência da República nos últimos governos. Explicou tão didaticamente uma obviedade que eu me senti ofendido na inteligência. Aliás esse PT governo vive fazendo isso, mas desconfio que inteligência não é um artigo farto por aí, já que a aprovaçÃo do Mula sobe para 60%.
Meu chefe tem uma teoria: o povo vota nesses caras (Janio, Collor, Severino, Pitta, Maluf e Lula --minha lista "de honra") porque quer apenas se divertir. Eu concordo, mas sou um pouco mais ácido: aposto mais no voto avacalhado, o pessoal não quer pensar porque deve doer a cabeça, e vota em qualquer porcaria esperando "o que que eu vou ganhar com isso".
Mas, voltando ao assunto, dona Dilma joga com a platéia mais estúpida para disfarçar mais uma ação típica do governo PTsta. Pressão é coisa típica de sindicalista que joga sujo, e o vazamento foi jogo sujo. Demissão é pouco, um integrante do governo não pode usar os recursos do governo para pressionar e intimidar a oposição.
Não era justamente isso o que o PT reclamava do governo militar quando estava na oposição?
Pois é dona Dilma, não adianta jogar com as palavras e usar muletas semânticas para disfarçar a besteira e tentar preservar uma aura de santa para tentar suceder o presidente das muletas....

quinta-feira, 20 de março de 2008

Uma dúvida gerada...

O post "Quer uma pauta exclusiva?" gerou dois comentários e um deles, da assessoria de imprensa da HP, que acaba gerando uma dúvida relacionada a um veículo em que trabalho, e que não está sob a minha responsabilidade. Cito o comentário abaixo e, logo depois, um esclarecimento-post.

Do comentário ao post: "... No entanto, não existe nenhuma relação entre uma pauta de um dos business da HP e uma entrevista com o presidente, que, como já foi dito, está sendo negociada e será realizada assim que for possível. O interesse também é nosso e da empresa. Espero que o fato de aguardamos essa disponibilidade de agenda não limite os espaços da HP no Informática hoje. " (GRIFO MEU)

Uma resposta respeitosa!

Obrigado Flavio e Denise!
Denise, eu entendo seu lado, e conheço teu trabalho, confio nele, mas é fato que os interesses são conflitantes e de vez em quando não há como conciliar.
O que é importante, para mim, é ajudar a escancarar neste blog certas práticas que não são nada bacanas com o leitor. Sei que o mundo é injusto e sacana por definição, mas não é por isso que vou ficar quetinho e pronto. Não dá pra jogar conforme a música que nos impõem o tempo todo.
Por isso é bom mesmo que você diga que alguns jornalistas pedem isso: só aceito publicar esse release (informação, dica, whatever) se for exclusiva! Não pode passar pra ninguém até eu publicar e "furar" todos os concorrentes.
Não é uma chantagem?
Não é uma sacanagem com os leitores dos outros veículos?
Não é um favorecimento muito estranho, que na verdade ajuda mais aos jornalistas preguiçosos e às empresas que pagam assessorias para economizar com as agências de publicidade e com os veículos?
Para as assessorias e para os jornalistas preguiçosos a resposta é não.
Para mim é: sim!
Para a/o jornalista que recebeu e aceitou cair no colo a pauta que me propuseram como exclusiva, a resposta deve ser não, e deve pensar: como esse cara que recusou é trouxa!
Há muitos colegas que preferem esse lado da vida, o da preguiça mental, e há os que são tão pressionados pelos seus chefes que fazem qualquer coisa ("ética? pra quê? rsrs") para furar os concorrentes. Mesmo que seja por apenas um par de horas na internet. Grande "furo de reportagem" esse de um/a coleguinha certamente super esforçado...
Mas o principal motivo de fazer uma resposta pública é a menção ao veículo/editora em que trabalho. A minha opinião neste blog é pessoal, mesmo que seja sobre temas de trabalho.
Minha dúvida em relação à entrevista é legítima (já enviaram alguma resposta sobre o pedido, e eu não percebi?). E o post foi motivado pela reação da assessora que não gostou de eu ficar argumentando e contra-argumentando, e ela (imagino) achou melhor me retaliar retirando a oferta de entrevista.
Portanto, continuamos na mesma. Estou esperando a entrevista. E isso não tem NADA a ver com o espaço que o Informatica Hoje dá ou nao dá à HP.
Como você sabe bem disso, eu confesso que ainda estou pensando no motivo de você mencionar uma ação fora do meu alcance como se fosse uma decisão minha, e vinculada à concessão ou não da entrevista.
Como eu te conheço faz tempo, eu acho que você não fez por mal. Mas nas entrelinhas faz sim.

PS: Ia ser uma resposta exclusiva, mas como há dúvidas geradas acho melhor torná-la um post.

terça-feira, 11 de março de 2008

"Quer uma pauta exclusiva?"

(ou, "Como ganhar espaço na imprensa")

Esta é uma história que acontece todo dia. E o leitor não fica sabendo...
Uma empresa contrata uma assessoria de imprensa para facilitar seu relacionamento com os jornalistas, treinar seus executivos a responder abertamente algumas questões e ser incrivelmente vagos em perguntas importantes. Além disso, as empresas pressionam os assessores de imprensa a cavar espaço nos jornais, revistas e blogs com a proposta de "pauta exclusiva".
Funciona assim: a empresa tem um novo produto ou está interessado em divulgá-lo em um jornal, com o maior espaço possível, e --melhor ainda-- com a roupagem da "abordagem jornalística". Dá mais credibilidade e sai bem mais barato que comprar espaço publicitário no mesmo veículo --o que fomenta a saúde financeira da imprensa e da democracia!
Até aí, tudo bem, o jogo é esse, e os ingênuos dançam. Eu, jornalista, tenho que pensar no meu leitor, e não fazer o jogo das relações públicas. Isso não significa que vou ser refratário ou ter repulsa às propostas das assessorias. Aceito boas idéias, na boa.
Mas não gosto das propostas de "pautas exclusivas" porque as assessorias seguram a divulgação de um material que deveria ir ao mesmo tempo para toda a imprensa e elas o passam a um jornalista prometendo exclusividade até que ele o publique. Não gosto de ficar na obrigação de publicar algo, pressionado pela assessoria que quer ver logo o resultado publicado. De preferência, que eu publique rápido, com grande espaço e tom favorável. Em geral, eu recuso.
Tudo isso pra dizer que hoje fiquei surpreso com uma assessora, de uma gigante da tecnologia, a HP (sem rodeios). Ontem, ela propôs uma "exclusiva". Pedi mais informações, pra checar a relevância. A resposta veio. É a união entre a HP e uma parceira (não revelo o nome, seria sacanagem) que ainda é uma oferta ao mercado. Ou seja, ainda não tem clientes e pro meu leitor não serve, infelizmente. Se publicasse, sem análise e crítica, faria propaganda gratuita para as duas empresas.
Depois de esgrimirmos argumentos, concordei, marcamos horário, o entrevistado inclusive é meu colega da Politécnica. O papo ia ser bacana. Então, antes de ela desligar, eu disse "espera, e a entrevista que eu pedi há semanas com o presidente da empresa?". "Ah, isso está para ser decidido na reunião de amanhã, nós não temos poder sobre a agenda do presidente, que tem suas prioridades, inclusive atender jornalistas". Senti que entrevistar o presidente seria mais uma luta no limbo burocrático de decisões de uma corporação e reclamei:
-- Vou fazer papel de bobo se eu não conseguir a entrevista que eu pedi e fizer a entrevista a partir da oferta da assessoria, que pode virar uma publicidade gratuita. Ou seja, a minha demanda não é atendida e eu atendo a de vocês? -- E lembrei a ela que, quando a então CEO Carly Fiorina veio ao Brasil, a assessoria fez uma barbeiragem e me excluiu de um encontro da executiva com alguns jornalistas selecionados a dedo. Detalhe: eu pedia a entrevista há meses à empresa.
A resposta dela:
-- Então vamos fazer assim. Esquece a proposta que eu fiz, nós vamos oferecer a pauta a outro
veículo. E teu pedido de entrevista com o presidente continua lá, vamos ver na reunião.
Ahnn? Então tá.
Resumo da ópera. Se o jornalista não faz o que a assessoria deseja, e se é incisivo em seus pedidos incômodos, que ele se vire. A assessoria oferece o material exclusivo a teu concorrente. Divulgas a todos igualmente, nem pensar...
Como eu já estou há um bom tempo no mercado, e não procuro "furos de reportagem", mas sim fazer textos relevantes e inteligentes, não me importo.
Vou me importar se a empresa e assessoria enrolarem para atenderem meu pedido de entrevista... ;-)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Chupinha press (ou: Por isso que jornalista ganha mal)

Os coleguinhas jornalistas que de vez em quando passam aqui até que já sabem do que estou falando. Mas quem não é, vai se espantar...
Entrevistei um diretor da Motorola, que me convidou para almoçar no ótimo Tordesilhas (totalmente recomendado!). Não é pelo fato que a empresa pagou a conta que eu vou fazer uma reportagem do jeito que eles querem, exaltando a empresa, sem um pingo de visão crítica. Vivo sendo cobrado sobre isso pelos meus editores. E nem precisavam, pois uso o cérebro na hora de escrever qualquer texto, certo?
Para alguns colegas, infelizmente, errado. A vida deles deve ser tão ruim, corrida ou mal paga que eles simplesmente reproduzem o discurso da empresa. A empresa contrata uma assessoria de imprensa, que escreve press-releases e manda pros jornalistas. Um release, assim como uma entrevista em almoço ou em um press tour, é apenas o ponto de partida para pensar sobre o tema, investigar um pouco que seja e escrever - pensando, refletindo, usando o cérebro pô!!
Pois é, justamente fui pesquisar sobre a história que o executivo da Motorola me contou, que um modelo de telefone móvel (não exatamente um celular) é usado pra escanear o código de barras do ingresso vendido pelo Cinemark pela internet, e enviado ao celular do cliente. Bacaninha a história. A cobertura da imprensa, em compensação é vergonhosa!

Olhem abaixo o press-release original.
Em seguida o texto do site da Consumidor Moderno. É reprodução ipsis literis do press-release! Ou os jornalistas são tao explorados que não têm tempo nem pra ir no banheiro, muito menos para pensar, ou recebem tão mal que nem se importam com a qualidade do texto. Ou os dois...



Abaixo, o material da Info Corporate. Só não é ipsis literis porque foram feitos cortes para o texto ser lido no tempo curto que --presume o site-- o internauta tem para ler a notícia. Eu acho que se o leitor clicou para ver o texto é porque está interessado ou curioso. E a última coisa que o jornalista deve fazer é enganar seu leitorado publicando exatamente o que a empresa (e muitas vezes anunciante) quer.



É por essas e outras que eu coloco o MP3 no ouvido e me concentro com uma música bacana para poder mandar ver em um texto. Meu cérebro merece esse prazer e o pagamento justo. Felizmente não tenho do que reclamar da empresa em que trabalho. Mas sim, desse mercado que explora tanto os coleguinhas que, no fim, me faz pensar que ganho metade do que merecia, e a empresa sabe que eu hoje sou caro para este mercado. Ainda bem que todos estão felizes aqui, hehehe.