domingo, 25 de fevereiro de 2007

A mesmice dos portais

Dia desses abri a minha home page (UOL, sou assinante) e lá estava a manchete sobre a prisão da mulher acusada de mandar matar o esposo rico ganhador na loteria. OK, até aí morreu neves. Mas em seguida abri o Terra e lá estava a mesma manchete. Fui conferir o iG, a Globo.com, e wow! Como essa notícia se repetia! Mesmo destaque, no mesmo horário. Como se a prisão da loira pintada fosse o tema mais importante para a vida do internauta – teoricamente um tipo mais informado, que demanda notícias interessantes e úteis.
Então percebi o óbvio ululante. Os portais de internet entraram na mesma balada que os jornais diários, ou seja, a mesmice. Digo isso com todo o respeito ao trabalho dos jornalistas e dos profissionais de internet, porque no fim, estes são os que mais tentam fazer o melhor produto possível, em condições nem sempre favoráveis. Eles lutam contra o tempo – mais cruel ainda na internet – e contra a pressão de trabalhar com equipes enxutas. A razão disso está na dinâmica da competição entre os meios de comunicação e no defensivismo dos editores que chefiam as redações _ e não querem perder emprego e poder.
Explico. Nos anos 90 trabalhei na Folha de S. Paulo, boa parte como redator de fechamento na editoria de Política. O jornal tinha uma ótima equipe de repórteres, que garantia boas manchetes exclusivas, assim faziam como os concorrentes (Estadão, O Globo e o antigo JB). Mas os editores tinham uma missão ingrata: monitorar o Jornal Nacional, para conferir se alguma notícia importante tinha escapado da nossa redação. Se isso acontecia, a correria era enorme e desesperada. No fim, os jornais acabam saindo com manchetes bem parecidas, e justamente o que estou discutindo aqui é isso: a face quase idêntica das páginas iniciais, seja em jornais ou portais.
Na internet, a história se repete. Depois daquela época loucamente boa da bolha da internet, quando contratavam jornalistas nas redações a peso de outro e tudo era novidade (inclusive as home pages que mudavam manchetes a cada 5 minutos), veio a depressão e as demissões em massa. Era preciso reduzir custos e rentabilizar a pontocom, por isso a tática passou a ser jogar "na certa", nada de ousadias.
E por ousadias não estou falando de beldades seminuas, mas investimentos em conteúdo de qualidade, que realmente diferencie o portal da concorrência. É preciso ter aquela notícia que chama a atenção, mesmo que seja a mesmissima notícia publicada pela concorrência – em outras palavras ou ordem de parágrafos. O layout das homepages dos portais é quase igual: uma banner publicitário no topo, o logotipo do portal quase escondido, ícones para as ferramentas principais, uma lateral com os links dos canais e a outra lateral para uma coluna de publicidade. Tudo muito parecido...
Sou um consumidor exigente, ok, mas acho que é da demanda qualificada que vem a pressão por melhores produtos. Então, primeiro vou assumir que eu não tenho uma solução mágica a oferecer, em termos de layout, e que reconheço ser preciso abrir espaço à publicidade para fazer o portal se pagar e começar a gerar lucro (nada contra). Mas eu vou ser bem exigente e dizer que desse jeito, minha sensação final é de tédio. Se eu vou ter o trabalho de abrir a página de outro portal, quero ver novidade, não a reprodução do mesmo tema.
Acho que os vídeos na rede, as rádios online e os canais exclusivos cumprem boa parte dessa função. Para os adolescentes, blogs, flogs, trogs e plocts afins também cumprem esse papel. Mas, que eu realmente gosto de informação interessante, vou torcer para os bons tempos voltarem e os portais invistam em jornalismo e conteúdo realmente criativo e interessante.

Um comentário:

Gabriela disse...

Oi querido,

Dura a vida de quem não mais se contenta com o que tem. Sinto o mesmo.

Beijos

Gabi